quarta-feira, 7 de março de 2012

Apesar da sustentabilidade estar avançando em ritmo acelerado, existem várias dificuldades que ainda precisam ser superadas

Incipiente, sustentabilidade avança em ritmo acelerado
A preocupação com a questão ambiental e suas relações com a economia surgiu ainda na década de 1950. Hoje, as dimensões econômicas, sociais e ambientais são consideradas a única base possível para o desenvolvimento sustentável. Nesse campo, as certificações de sustentabilidade ainda são muito incipientes, não só no Brasil, como em vários outros países. Apesar de estarem avançando em ritmo acelerado, existem várias dificuldades que ainda precisam ser superadas.
O segmento da construção civil é responsável por até 40% das emissões globais de CO2 e no Brasil responde pelo consumo de 21% da água tratada, 42% da energia gerada e cerca de 60% dos resíduos produzidos. Embora a consciência sobre a necessidade de um desenvolvimento sustentável ainda não esteja plenamente difundida, houve uma rápida mudança cultural no mercado e hoje existe significativa demanda por produtos e serviços de menor impacto ambiental.
“Entre nossos clientes temos apenas um ou dois que abraçam árvores, os outros exigem edificações de menor consumo de água e energia elétrica porque isso reduz o custo operacional, torna o empreendimento mais competitivo no mercado de venda ou locação e aumenta a velocidade de vendas”, afirma o consultor Anderson Benite, diretor de sustentabilidade do CTE, empresa que oferece consultoria de sustentabilidade para a certificação de empreendimentos.

O Eldorado Business Tower, projetado por Aflalo & Gasperini Arquitetos, foi o primeiro edifício corporativo da América Latina a obter a certificação Leed CS na categoria Platinum, a mais alta conferida pelo USGBC. O empreendimento está localizado em São Paulo
“Mas não basta ter todos os atributos do desenvolvimento sustentável, é preciso agregar valor e oferecer retorno financeiro”, diz Newton Figueiredo, presidente do grupo Sustentax.

Outro tipo de cliente é aquele que vai utilizar a edificação e busca também a qualidade do espaço. “Nos Estados Unidos existem pesquisas que mostram que a qualidade do ambiente de trabalho gera mais produtividade e reduz o afastamento por doenças.

O empresário sabe que o custo da folha de pagamento é muito maior que o da operação do prédio e investe na qualidade ambiental”, diz o consultor. Grandes bancos e companhias no Brasil já exigem espaços certificados. Entre eles não estão apenas os de origem estrangeira, como Google, Siemens, Barclay e Morgan Stanley, mas também brasileiros como Vale do Rio Doce, Bradesco, Itaú, Banco do Brasil, Petrobrás e Grupo Pão de Açúcar.

As certificações de sustentabilidade para edificações são sistemas de mensuração e funcionam como uma espécie de atestado que garante que as construções estão em acordo com parâmetros que visam redução do consumo do energia e de água e asseguram o conforto ambiental. Atualmente o Brasil soma cerca de 50 empreendimentos já certificados em acordo com um dos três principais sistemas de certificação em funcionamento.
Leed
O Centro de Cultura Max Feffer, em Pardinho, SP, tem projeto de Amima Arquitetura. Com cobertura de bambu, obteve a certificação Leed em nível Gold
O Centro de Cultura Max Feffer, em Pardinho, SP, tem projeto de Amima Arquitetura. Com cobertura de bambu, obteve a certificação Leed em nível Gold
A certificação Leadership in Energy and Environmental Design (Leed) é conferida pelo United States Green Building Council (USGBC).
O primeiro empreendimento brasileiro a obter uma certificação de sustentabilidade foi a agência do Banco Real na Granja Viana, em Cotia, SP. Em 2007, a agência obteve a certificação Leed na tipologia New Construction e na classificação Gold.
O fato de ter sido a primeira contribuiu para que a certificação se tornasse a mais difundida no Brasil atualmente. De acordo com informações disponíveis no site do USGBC, hoje são 32 empreendimentos brasileiros já certificados pelo Leed e outros 175 registrados, que podem ou não vir a obter a certificação.
“Há também processos de certificação que correm em regime de confidencialidade. Estimamos que existam cerca de 50 nessa condição, o que nesse momento significa um potencial de mais uns 220 empreendimentos a serem certificados no Brasil nos próximos anos”, afirma Paola Figueiredo, profissional acreditada pelo Leed (Leed AP) e diretora da Sustentax, empresa que oferece consultoria de sustentabilidade para empreendimentos, produtos e serviços e corporativa, além do Selo Sustentax, rotulagem para identificação de produtos, materiais, equipamentos e serviços sustentáveis.
Em 2011 o Brasil desbancou o Canadá e tornou-se o quarto país em empreendimentos registrados para obter a certificação Leed, atrás apenas de Estados Unidos (20,9 mil projetos), Emirados Árabes (525 projetos) e China (427 projetos). O Canadá caiu para o quinto lugar, com 152 projetos.
O Leed surgiu nos Estados Unidos em 1998 e a versão hoje em vigor é a de 2009. “No próximo ano já teremos a versão 2012”, antecipa Paola. Trata-se de um sistema de pontuação baseado em números de referência para diferentes tipos de construção (leia o quadro “Entenda o Leed”).
“Eu vejo o Leed como uma certificação mais pragmática, que permite ao empreendedor estabelecer suas estratégias em acordo com seus objetivos. Em todas as tipologias, há pré-requisitos que são obrigatórios.
Por exemplo, o empreendimento tem que comprovar o gasto de água 20% menor que a referência de sua tipologia”, explica Paola. A certificação é concedida a edifícios que comprovem o desempenho ambiental e energético.
Além de atender os pré-requisitos, que se distribuem em sete categorias (Espaço Sustentável; Uso Racional da Água; Energia e Atmosfera; Materiais e Recursos; Qualidade Ambiental Interna; Inovação e Processo de Projeto; e Créditos Regionais), o empreendimento também deve somar no mínimo 40 pontos, dentro do máximo de 110 pontos possíveis, a fim de obter um dos níveis de certificação (leia o quadro “Níveis de certificação Leed”).
O True Chácara Klabin, da Even, é o primeiro residencial a conquistar a certificação Aqua na fase Concepção. O edifício, em São Paulo, tem projeto arquitetônico de Jonas Birger
O True Chácara Klabin, da Even, é o primeiro residencial a conquistar a certificação Aqua na fase Concepção. O edifício, em São Paulo, tem projeto arquitetônico de Jonas Birger
Em 2008, a loja Pão de Açúcar de Indaiatuba, SP, foi o primeiro supermercado da América Latina a obter Leed no nível Certificado. A rede tem hoje duas lojas certificadas
Em 2008, a loja Pão de Açúcar de Indaiatuba, SP, foi o primeiro supermercado da América Latina a obter Leed no nível Certificado. A rede tem hoje duas lojas certificadas
Níveis de certificação Leed
Certificado40 a 49 pontos
Prata50 a 59 pontos
Ouro60 a 79 pontos
Platina80 a 110 pontos
O processo de certificação começa com o registro do empreendimento diretamente no site do USGBC (www. usgbc.org), mediante o pagamento de uma taxa que varia conforme a tipologia e a metragem da obra a ser executada. O passo seguinte é montar uma equipe qualificada, ou contratar consultoria especializada, para acompanhar o processo e produzir os relatórios e memoriais que devem ser enviados ao USGBC.

No final da obra, o empreendimento será auditado e receberá a certificação em acordo com o total de pontos obtidos. A certificação é emitida em nome do próprio USGBC, mas as auditorias são realizadas pelo Green Building Certification Institute (GBCI), divisão do USGBC responsável por certificar os empreendimentos e acreditar os profissionais especialistas em Leed.

“Esse processo de divisão das atribuições é bem recente e o USGBC agora responde pelos programas de educação e pela atualização das normas a cada dois anos”, detalha Paola. Segundo Benite, a divisão ocorreu devido ao grande volume de projetos registrados para certificação, o que consequentemente levou à necessidade de que os relatórios fossem avaliados com mais rapidez.
Aqua
Projeto da Fundação Kunito Miyasaka, o Parque Ecológico Imigrantes já nasceu comprometido com o baixo impacto sobre o meio ambiente e recebeu certificação Aqua na fase Programa
Projeto da Fundação Kunito Miyasaka, o Parque Ecológico Imigrantes já nasceu comprometido com o baixo impacto sobre o meio ambiente e recebeu certificação Aqua na fase Programa
Certificação brasileira concedida pela Fundação Vanzolini, de São Paulo, é destinada a edifícios de escritórios, escolares, habitacionais e complexos esportivos multiuso. O programa foi lançado no Brasil em 2008 e é fundamentado no sistema francês Haute Qualité Environnementale (HQE), que foi adaptado e incorporou critérios próprios e normas da ABNT, por meio de um trabalho conjunto entre a Fundação Vanzolini e professores do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli/USP.
Além da França e do Brasil, o processo também é adotado no Oriente Médio. “O Aqua e o Leed são muito parecidos, existe uma sobreposição em 90% dos pontos abordados. Ambos tratam de economia de água, energia, conforto ambiental, correto descarte de resíduos, emissão de carbono. Eles medem as mesmas coisas, apenas usam réguas diferentes”, diz Benite.
O Aqua requer mais investimentos na fase de projeto, por essa razão os interessados devem buscar os critérios de certificação antes de ter qualquer gasto com os projetos. De acordo com Manuel Carlos Reis Martins, coordenador executivo do Processo Aqua, existem hoje no Brasil 41 empreendimentos já certificados ou em processo de certificação. “Nossa certificação é feita em três etapas e esse número corresponde aos que a obtiveram pelo menos na primeira fase”, afirma, sem especificar quantos já foram certificados nas três fases.
A primeira etapa é chamada Programa, na qual são definidos o programa de necessidades e o sistema de gestão do empreendimento, a ferramenta que viabilizará o controle total do projeto de modo que as metas de desempenho sejam alcançadas. Nessa fase, também é estabelecido o perfil de sustentabilidade com os níveis de desempenho (Bom, Superior ou Excelente) que a edificação deverá mostrar em cada uma das 14 categorias consideradas (leia o quadro “As 14 categorias do Aqua”).
O parque será implantado às margens da rodovia Imigrantes, na altura do quilômetro 34, entre as cidades de Santos e São Paulo
O parque será implantado às margens da rodovia Imigrantes, na altura do quilômetro 34, entre as cidades de Santos e São Paulo
As 14 categorias do Aqua
1Relação do edifício com o seu entorno
2Escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos
3Canteiro de obras com baixo impacto ambiental
4Gestão da energia
5Gestão da água
6Gestão dos resíduos de uso e operação do edifício
7Manutenção - Permanência do desempenho ambiental
8Conforto higrotérmico
9Conforto acústico
10Conforto visual
11Conforto olfativo
12Qualidade sanitária dos ambientes
13Qualidade sanitária do ar
14Qualidade sanitária da água
O empreendimento deverá alcançar o mínimo de três resultados Excelentes, quatro Superiores e sete Bons. O próprio empreendedor fará a autoavaliação da consistência dos dados, levando em conta a coerência e a viabilidade dos objetivos propostos. A avaliação será apresentada à Fundação Vanzolini e, se todos os pontos estiverem em acordo com as normas, o empreendimento receberá o certificado da primeira fase.

A etapa seguinte é a Concepção, quando será desenvolvido o projeto executivo, já com todos os detalhes do empreendimento e em acordo com o sistema de gestão escolhido para garantir o controle. Nessa fase ocorre outra autoavaliação para demonstrar como o projeto atenderá os critérios dos níveis de desempenho Bom, Superior ou Excelente que foram propostos nos objetivos da primeira fase.

A Fundação Vanzolini fará a auditoria e, se tudo estiver correto, será concedido o certificado da segunda fase. A terceira é a Realização, que abrange a obra feita em acordo com o sistema de gestão e com os projetos. Mais uma autoavaliação será feita no final da construção, que depois passará pela última auditoria para verificar se o projeto implantado resulta no perfil desejado para obter a certificação.

Os critérios do Aqua exigem que todas as 14 categorias sejam contempladas no projeto. No entanto, quando algum ponto não se aplica ao projeto em questão, é possível propor um parâmetro diferente ou dar justificativas bem fundamentadas para explicar por que determinado item não foi aplicado.

“Essa flexibilidade permite escolhas em favor do melhor desempenho para cada situação específica, empreendimento por empreendimento. Em locais com menos barulho, o Aqua prioriza a questão da ventilação natural. Já num escritório situado à beira da marginal do Pinheiros, a prioridade será a acústica”, exemplifica Martins.

Por ser um programa recente, o Aqua ainda não conta com números de referência para fins de comparação e estabelecimento de metas. De acordo com Paola, essa falta de referência torna o Aqua um processo de certificação um pouco mais subjetivo. “Nesse primeiro momento a referência é dada pelo projeto sem os critérios sustentáveis das 14 categorias. Teremos nossos parâmetros de referência, mas para isso primeiro precisamos alcançar um volume de obras certificadas no Brasil para que possamos estabelecer esses referenciais”, conclui Martins. O custo da certificação gira em torno de 5% do total da obra.
Breeam
Projeto do Movimento Terras é assinado por Sérgio Conde Caldas Arquitetura, Miguel Pinto Guimarães Arquitetos Associados, Bernardes & Jacobsen e Levisky Arquitetos Associados. A construção está a cargo da Concal
Projeto do Movimento Terras é assinado por Sérgio Conde Caldas Arquitetura, Miguel Pinto Guimarães Arquitetos Associados, Bernardes & Jacobsen e Levisky Arquitetos Associados. A construção está a cargo da Concal
É a mais antiga certificação de sustentabilidade do mundo, desenvolvida em 1990 pelo Building Research Establishment (BRE), entidade inglesa dedicada à pesquisa de questões relacionadas a edificações há mais de um século. As auditorias são realizadas por empresas credenciadas e o certificado é emitido pela BRE Quality Assurance. No total já são mais de 200 mil edifícios certificados pela Breeam no mundo e mais de 1 milhão de edificações registradas.

De acordo com Benite, ela é a certificação que foi adaptada para dar origem ao Leeds eu uso ocorre na Europa, países árabes, Oceania e Estados Unidos. Porém, o BRE vem procurando difundir a norma em outros países. No mercado desde 1992, a Breeam está chegando ao Brasil com o apoio do consulado britânico e se adapta a diferentes localidades e condições. O grande diferencial do Breeam é a quantidade de pesquisa incorporada à certificação.

Suas exigências focam a construção, o entorno e o meio ambiente de empreendimentos novos, reformas, ampliações, envoltória e interiores, e plano diretor para diversas tipologias. Já existe um conjunto de oito casas, dentro de um conceito de vila sustentável, que está sendo implantado na região serrana do Rio de Janeiro. Denominado Movimento Terras, o empreendimento será o primeiro do Brasil a obter uma certificação Breeam. A avaliadora e consultora do projeto é a arquiteta Viviane Cunha, única profissional brasileira licenciada atualmente para prestar consultoria a quem pleiteia essa certificação.

Os critérios de avaliação dos empreendimentos são: Gerenciamento; Saúde e Bem-Estar; Energia; Transporte; Água; Materiais; Resíduos; Uso da Terra e Ecologia; e Poluição. Cada um desses critérios apresenta percentuais mínimos de atendimento que devem ser alcançados e a certificação pode ser feita em cinco níveis: Pass (30%), Good (45%), Very Good (55%), Excellent (70%) e Outstanding (85%).


Fonte: Arco Web

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