segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Arquitetura diferenciada na Espanha...

Encosta da montanha é local desta casa
A encosta de uma montanha em Ayora é o local desta residência desenhada pelo estúdio Fran Silvestre Arquitectos
Cristal branco sob a luz mediterrânea
Situada em uma pequena cidade da província de Valência, na Espanha, esta residência construída em 2010 foi projetada por Fran Silvestre e Maria José Sáez de modo a se integrar ao ambiente natural e urbano. A simplicidade de sua geometria e a riqueza de seus detalhes a inserem na produção da arquitetura ibérica contemporânea.
A encosta da montanha que abriga o castelo deAyora, município com pouco mais de 5 mil habitantes na província de Valência, na Espanha, foi o lugar escolhido por um casal de historiadores para construir sua moradia.
A tarefa de desenhá-la foi entregue à equipe do escritório local Fran Silvestre Arquitectos, que criou um paralelepípedo branco de três pavimentos, cuja linguagem formal se insere na produção contemporânea da arquitetura ibérica.
“Revestida com cal branca, a casa foi projetada para se acomodar ao terreno irregular, no sentido de criar uma continuidade construtiva. Esta é diminuída pelas aberturas, mas aumentada por seus contornos, sempre em conformidade com a paisagem fragmentada do entorno”, diz Fran Silvestre, sócio titular do estúdio e um dos autores do projeto.
Como uma peça de cristal, o bloco foi esculpido a partir de suas arestas principais, solução pensada com base na carta solar.
Aberturas aproveitam luz natural
Aberturas tiram proveito da luz natural abundante na região de clima mediterrâneo, onde predominam dias ensolarados e secos
Estuque branco integra casa à paisagem
Além do conforto térmico, o estuque branco integra a casa à paisagem marcada pela montanha
O resultado são aberturas que tiram o máximo proveito da iluminação natural, farta nessa região de clima mediterrâneo, onde predominam dias ensolarados e secos. A luz abundante, aliás, era, junto com o máximo de privacidade, a principal demanda dos proprietários.
orçamento reduzido, porém, foi um grande obstáculo para os arquitetos, que decidiram integrar o projeto ao espaço construído preexistente, respeitando as características do meio ambiente e utilizando materiais locais, “sem, no entanto, se deixar levar por um efeito de mimetismo que pudesse gerar um falso sentimento de historicismo”, acrescenta o arquiteto.
“O que nossa proposta pretende é atender às expectativas das novas gerações, empregando uma linguagem construtiva contemporânea”, ele completa.
Coroada por um castelo, a montanha é rodeada por um manto de antigas construções que formam um tecido branco fragmentado, porém adaptado à topografia.
Nos mesmos moldes, a residência foi concebida inteiramente em contato com o solo, como um único volume revestido com estuque branco, o que garantiu sua integração à paisagem urbana e também o conforto térmico.
“Mas a casa é, sobretudo, um reflexo das pessoasque ali vivem, uma expressão inconfundível da personalidade de seus moradores. Afinal, o diálogo é sempre um ingrediente-chave no processo de desenho, que deve oferecer conforto e funcionalidade, examinando os conflitos e as alegrias cotidianas de cada cliente”, salienta Silvestre.
Como uma peça de cristal, o bloco foi esculpido a partir de suas arestas principais
Volume branco tem linguagem que se insere na arquitetura contemporânea ibérica
Concluído no final de 2010, o volume branco de três pavimentos tem linguagem que se insere na arquitetura contemporânea ibérica
espaço interno da residência articula-se em torno do vão gerado pelo núcleo de circulação vertical, que está organizado em paralelo ao corte da montanha, sem tocála. A garagem e a adega ocupam o térreo, acima do qual estão dois pavimentos, que somam quatro dormitórios.
Os dois quartos do primeiro andar estão orientados para um pátio privado, enquanto os dois no piso de cima voltam-se para o imenso vale onde se situa Ayora e contam com vista privilegiada, pois estão acima do nível das casas do entorno. Já o estúdio abre-se para o volume central com pé-direito duplo, incorporando-o.
As áreas orientadas para a encosta - bem como o terraço - são abundantemente iluminadas durante o dia, quando “a luz do sol se reflete na parte da montanha onde está o castelo”, conta o arquiteto.
À noite, a luz branca artificial dos espaços internos - a maioria de lâmpadas fluorescentes - reflete-se na mesma encosta, criando visuais únicas.
cor branca, aliás, é um elemento que determina o projeto - não apenas nas paredes ou na iluminação, ela está presente no piso externo, feito com blocos intertravados, e no acabamento interno em MDF das portas e da cozinha.
A residência tem, assim, sua complexidade expressa nos recortes feitos na volumetria, nas soluções de planta e também nos detalhes de acabamento.
De costas para um antigo castelo, a residência tem vista para o vale ocupado pela cidade de pouco mais de 5 mil habitantes
Croqui
Croqui
Iluminação artificial dos espaços internos feito com lâmpadas fluorescentes
A iluminação artificial dos espaços internos é feita com lâmpadas fluorescentes e luminárias customizadas
Semelhante a um cristal, ela é um contraponto ao ambiente natural e urbano, mas se encaixa perfeitamente nesse contexto. Fran Silvestre considera difícil estabelecer quais foram as influências diretas para este trabalho.
“Talvez as casas de José Antonio Coderch ou a arquitetura de Álvaro Siza, que evidenciam a tradição mediterrânea de maneira tão inovadora, tenham atuado como referência. A maior parte do projeto, porém, é uma reinterpretação da arquitetura tradicional da região onde se insere, uma área bem preservada de Ayero chamada Los Altos”, explica o arquiteto, que já trabalhou no escritório do português Siza.
“É verdade que a formação como colaborador em seu estúdio se reflete na proposta, especialmente na relação entre o desenho e o meio ambiente. Certamente a adaptação à topografia, o vão e o terraço de frente para a colina, o uso de painéis de madeira, o estuque branco são fatores comuns não somente à nossa produção, mas a toda a arquitetura ibérica”, conclui.

Texto de Fabio de Paula
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 379 Setembro de 2011


Fran SilvestreMaria José SáezFran Silvestre é graduado na Escola Técnica Superior de Arquitetura (ETSA) de Valência, com especialização em edificações e pós-graduação em urbanismo pela Universidade Técnica de Eindhoven, Holanda. Ex-colaborador de Álvaro Siza, é subdiretor e professor de projeto da Escola de Arquitetura de Valência.

Maria José Sáez, formada pela ETSA de Valência e com especialização em edificações, colabora com Silvestre desde 2003 e associou-se ao estúdio Fran Silvestre Arquitectos em 2010
O projeto buscou se integrar ao ambiente construído, respeitando características do meio natural e utilizando materiais locais
As áreas orientadas para o jardim, bem como o terraço, são iluminadas com abundância durante o dia
 
Garagem e adega ocupam o térreo
A garagem e a adega ocupam o térreo, acima do qual estão dois andares, cada qual com dois dormitórios
Detalhes de acabamento
Além dos recortes na volumetria e das soluções de planta, a complexidade do projeto se expressa nos detalhes de acabamento
Espaço interno
O espaço interno articula-se em torno do vão gerado pelo núcleo de circulação vertical
Corredores e estúdio abrem-se para volume central
Os corredores e o estúdio abrem-se para o volume central, que tem pé-direito duplo
Acabamento interno em MDF das porta e da cozinha
O branco predomina não apenas nas paredes e na iluminação, mas também no acabamento interno em MDF das portas e da cozinha

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