quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Residência tem sua fachada robusta, introspectiva e fechada para a rua

Localizada em condomínio fechado, a residência não tem janelas na face que a limita com a via pública
No isolamento, robustez e introspecção
Implantada em seção fracionada dos grandes lotes que originalmente caracterizavam os arredores do aeroporto e do Núcleo Bandeirante, em Brasília, a residência projetada pelo estúdio Domo Arquitetos Associados tem arquitetura de formas robustas, é introspectiva e fechada para a rua. Essa abordagem, justificam seus autores, deve-se ao entorno, onde praticamente inexiste a dinâmica urbana.
Condomínios fechados não eram uma das soluções imaginadas por Lucio Costa quando o urbanista idealizou o traçado de Brasília. Nas últimas duas décadas, porém, nos arredores da cidade, áreas antes ocupadas por chácaras foram desmembradas e parte delas transformada em conjuntos desse tipo. É num deles que se encontra a casa Migliari Guimarães, projetada pelo estúdio Domo Arquitetos Associados. Esse contexto “retirado da cidade e alheio às dinâmicas urbanas”, conforme define o arquiteto Matheus Seco, sócio do Domo, levou os autores à proposta adotada.
A posição linear dos dormitórios foi estudada de forma que, observados do exterior, não se notasse diferenças entre eles e a sala íntima
“Não tínhamos vida urbana em volta”, conta Seco, e por isso os projetistas estabeleceram como regra que a residência não teria janelas frontais paralelas à via pública (cuja face é marcada por uma sequência de avanços e reentrâncias), mas aberturas concentradas na fachada voltada para o interior do lote. “A paisagem da reserva nos interessava mais”, detalha o arquiteto, acrescentando que, no futuro, os fundos do terreno terão conexão com a mata.
Na face oeste da casa fica a garagem, com entrada alternativa para o bloco de serviços e a área social
O diagnóstico levou o estúdio a criar uma arquitetura que os autores classificam como de “formas robustas, introvertida e fechada para a rua”. Seco observa que, em função disso, a interface com a área pública se dá por meio da massa construída e de espaços residuais. Ao fundo, porém, o cenário é de grandes planos horizontais transparentes que estabelecem o contato da casa com o exterior.
Saliências e reentrâncias estão presentes na fachada voltada para a rua do condomínio
A transição entre os setores social, íntimo e de serviços “é insinuada através da entrada de luz natural por jardins internos”, descreve Seco. Estes levam aos interiores fragmentos da paisagem exterior, por vezes mais generosos - na passagem da área social para os espaços de serviços o jardim é mais largo, conectando-se à parte externa da casa -, por vezes comprimidos em feixes rasos, junto ao chão. Neste último caso se enquadram os dormitórios, que, posicionados linearmente e voltados para a lateral do jardim, não se distinguem da área social.
Dormitórios e sala íntima vistos a partir do gramado. O nível dos pisos internos é praticamente igual ao da área exterior
Ao contrário, a repetição tipológica que forma um volume homogêneo unifica a vida íntima da família, supõem os autores. A geometria diversificada da casa tem relação com o desenho dos caixilhos. “Sem maiores aberturas do que as voltadas ao fundo do lote, decidimos enriquecê-las com a associação aos diversos elementos do programa, na velha premissa da expressão exterior como reflexo da vida interna”, discorrem os arquitetos no memorial do projeto. O jogo volumétrico que empregaram na face pública, assim, também se apresenta no topo do volume central (da sala), onde duas aberturas zenitais triangulares demarcam espaços reservados para obras de arte.

Texto de Adilson Melendez 
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 401 Julho 2013

Daniel MangabeiraHenrique CoutinhoMatheus SecoRodrigo ScheelDaniel Mangabeira (FAU/UnB, 1999), Henrique Coutinho(FAU/UnB, 1997) e Matheus Seco (FAU/UnB, 1999) são sócios fundadores do escritório Domo Arquitetos Associados, que constituíram em 2008. Rodrigo Scheel, que está no escritório desde sua fundação, graduou-se em 2005 pela Universidade do Bio Bio, no Chile
Conscientes de que erros de execução poderiam ocorrer, os autores optaram, no acabamento, pela alvenaria rebocada, mais fácil de corrigir
Aberturas na parte superior do volume central, que abriga a sala, trazem o céu para o ambiente interno
A vista do acesso a partir da via pública mostra a variação volumétrica nessa parte da composição
A iluminação natural gera composições diversificadas no piso ao longo do dia
A ocupação do espaço é mínima. No alto da sala, aberturas triangulares são espaços reservados para obras de arte
Cobertura
Térreo
Corte AA
Corte BB
Elevação norte

Fonte: Arco Web

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