sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A nova geração de babás

Se você já precisou ou vai precisar de uma babá, com certeza deve saber que o mercado não está nada fácil. Além da escassez de profissionais, a relação com elas está mudando e, com isso, os pais também vão precisar se adaptar. Mas, afinal, quem é a nova babá e o que as famílias podem esperar delas? Procuramos especialistas, mães, babás e agências para entender o que mudou nos últimos anos, qual é a tendência para a profissão e tudo o que você precisa saber para administrar isso na sua casa
   Gerson Bittar
Notícia do portal agenciadebabas.com.br aponta que a busca por uma profissional em São Paulo pode levar até
Bastou um e-mail oferecendo os serviços de sua babá para a vida da administradora de empresas Lais Perito, 41 anos, virar um inferno. O celular não parava de tocar, com mães desesperadas para contratar a Berenice. “Ela é boa e dorme em casa, coisa difícil hoje em dia”, explica Lais, mãe de Pedro, 9, Sofia, 7, e Nina, 3. Mesmo antes de deixar a casa da antiga patroa, Berenice, que é formada em turismo, mas trabalha como babá por questões de salário, já estava com emprego garantido. As três crianças agora vão voltar a ficar com a babá antiga, Bete, que saiu de São Paulo para morar no interior e trabalhar em uma empresa. Quis voltar e a antiga patroa prontamente aceitou. “A Bete é a pessoa mais qualificada que já tive, é quase uma governanta. Além de cuidar de toda a rotina dos meus filhos, incorporou outras funções da casa, como fazer lista de compras e orientar os outros funcionários”, conta.
Laís pode se considerar uma pessoa de muita sorte por ter encontrado duas profissionais tão boas. O comentário das mães que precisam de babás é o mesmo: está faltando mão de obra. E os especialistas concordam. Durante dez anos, o consultor de recursos humanos Eduardo Cabral, formado em economia e direito, foi dono de uma agência de babás, mas decidiu deixar a agência em segundo plano por dificuldade em encontrar profissionais para atender a demanda. Então criou a Primore Valor Humano (SP), que oferece trabalhos de governança residencial, com um atendimento personalizado para famílias que querem contratar profissionais domésticos. Ou seja, ainda oferece os funcionários, mas seu foco maior é orientar contratações. Eduardo também mantém o portal Agência de Babás, no qual disponibiliza notícias sobre a profissão. Para ele, a babá como conhecemos está com os dias contados. “A tendência é de que, muito em breve, esse serviço fique restrito apenas à alta classe. As babás sabem que estão em falta e pedem salários maiores. E os patrões acham que pagam caro, mas se você fizer uma comparação por horas trabalhadas, elas ganham o mesmo que um caixa de supermercado”, explica. Com a diferença de ter uma responsabilidade muito maior, que é cuidar do seu filho.
Hoje, se paga em média R$ 1.500 por uma jornada de trabalho que pode chegar a até 12 horas diárias – sem considerar as horas das babás que dormem no quarto junto com as crianças e acordam sempre que elas precisam de algo –, mas o salário pode chegar a R$ 7 mil, segundo a empresária Roberta Rizzo, dona da Kanguruh, uma rede de agências de babás que está presente em 40 cidades do Brasil e tem até uma franquia em Portugal. Dados do IBGE coletados em 2011 mostram que o salário dos empregados domésticos teve um aumento de quase 10%, passando a média de outras categorias, como professores e profissionais da indústria.
Apesar desses dados positivos, as mães sabem bem a dificuldade de encontrar profissionais. A melhora na economia brasileira e a consequente ascensão da classe C trouxe novas oportunidades de concluir o ensino superior e de empregos mais atrativos. “Antigamente essas pessoas não conseguiam colocação no comércio e na indústria. Por isso, optavam pelo serviço doméstico. Hoje há muitas vagas em telemarketing ou em lojas”, afirma Eduardo. Embora dados específicos sobre babás sejam difíceis, já que a profissão não é regulamentada, as profissionais são contabilizadas na categoria dos empregados domésticos. E os números do IBGE também comprovam essa migração para outros setores: 69 mil empregados domésticos, dos cerca de 6,6 milhões que existem no país (78% mulheres e apenas 26% com carteira assinada), deixaram a profissão e foram, principalmente, para o comércio. O resultado dessa conta é muita demanda e pouca oferta.
Por essas e por outras que a dona de casa Vivian Gavotti, que mora em Araraquara, a 270 km de São Paulo, já deu um jeito de garantir sua babá. “Eu não precisaria de alguém agora, tenho só a Vitória, que está com 2 anos e meio, mas pretendo ter o segundo filho logo e aí, sim, será necessário. Não temos família por perto e quando precisamos sair ou viajar é complicado”, diz. Ela contratou, há pouco mais de um mês, uma conhecida da família que estava há três anos cuidando de crianças na capital paulista.

As babás na história
Idade Média
Crianças da nobreza eram amamentadas por outras mulheres que não a mãe, as chamadas amas de leite, e só voltavam ao convívio familiar depois do desmame, que ocorria tarde, às vezes depois dos 6 anos.
Brasil colonial e imperial
As escravas que tinham filhos eram as amas de leite no país. As escravas que não tinham também faziam parte da dinâmica familiar, eram amas-secas e cuidavam das crianças.
Séculos 19 e 20
Surgem as governantas, mulheres que gerenciavam toda a organização da casa das famílias ricas. Elas controlavam os outros empregados e cuidavam da educação das crianças, como no filme a Noviça Rebelde.
Décadas de 60 e 70
Com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, surge a necessidade de ter uma pessoa para cuidar das crianças, até que os pais cheguem em casa. No Brasil, há uma adaptação do trabalho de empregada doméstica, que dorme na casa da família, com folgas apenas aos finais de semana ou a cada 15 dias.
Hoje
Novos modelos surgem com a evolução econômica do país, que traz mudanças a todo o setor de serviços, já que importar matéria-prima e produtos é fácil, mas mão de obra, não. Mulheres de países latino-americanos com situação menos favorável começam a vir às grandes cidades para trabalhar por salários mais baixos. O caso das paraguaias já foi notícia em jornais de São Paulo e no The New York Times.

Fonte: Casa e Jardim

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