Reportagem publicada no jornal El Clarín, em 1983, sobre a mostra de arquitetura brasileira em Buenos Aires que poderia ter dado origem a uma bienal intercambiável entre Brasil e Argentina
Arquitetura do possível e bienal de momentos
Apenas três dias separaram o término da Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires (13ª BA11) e o começo da 9ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo (NonaBIA), respectivamente em 30 de outubro e 2 de novembro. A primeira foi criada em 1985, enquanto a brasileira, mais antiga, ocorreu pela primeira vez independente da bienal de arte em 1975. Uma pausa de 20 anos e em 1995 voltamos a realizar, com certa irregularidade de tempo, a mostra em São Paulo. Isso explica que a bienal portenha esteja em sua 13ª edição e a paulistana na nona. Em 1983, cogitou-se realizar conjuntamente os dois eventos, com exposição da arquitetura brasileira em Buenos Aires e mostra argentina na capital paulista. Seria uma bienal lá e outra cá, mas falhou a primeira volta brasileira e os eventos seguiram, cada um a seu modo, o curso da história.
Em 2011 o arquiteto Carlos Sallaberry assumiu o posto de diretor da Bienal de Buenos Aires, que por 12 edições esteve sob o comando de um de seus criadores, Jorge Glusberg. Afastado do cargo por questões de saúde, Glusberg passou a faixa para um colaborador antigo da bienal, tendo Sallaberry se juntado ao comitê organizador do evento já em 1989.
A esplanada de entrada da bienal de São Paulo foi ocupada, depois da inauguração, por uma mostra dos cartazes das nove edições do evento. No lugar estavam previstas exposições temporárias que não chegaram a se realizar
A mostra dos projetos da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e do programa Renova SP, ambos da prefeitura paulistana, era das mais caprichadas
Ocorre que, na Argentina, a realização da bienal de arquitetura é, desde a primeira edição, tarefa de uma instituição independente, o Centro de Arte e Comunicação (Cayc, na sigla em espanhol), no qual há uma seção que organiza o evento.
Lá, o instituto e o conselho profissional dos arquitetos do país são colaboradores pontuais da mostra, uma realidade diversa da existente no Brasil, onde o Instituto de Arquitetos do Brasil é o responsável pela organização da BIA. A cada gestão do IAB paulista, monta-se uma nova estrutura e elegem-se gestores para a concepção e realização da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo.
A 8ª e a 9ª BIAs estiveram, assim, sob o mesmo estigma. No final de setembro de 2009, faltando cerca de um mês para o início da mostra, intitulada Ecos Urbanos, o curador Bruno Padovano foi substituído pela dupla Liane Almeida e Demétrio Anastassakis, seguindo-se um evento castigado por severas críticas. As animosidades atingiram, por fim, a antiga parceria entre o IAB/SP e a Fundação Bienal de São Paulo, que anunciou a indisponibilidade de agenda para sediar a edição de 2011.
Foi desse modo que, em março passado, divulgou-se que a nova casa da exposição seria a Oca, que, assim como o Pavilhão da Bienal, fica no parque Ibirapuera. Mas a continuidade também traz perigo, alerta Sallaberry: pensar que somos eternos. Questionado sobre as armadilhas e virtudes de a bienal argentina estar, desde o início, sob um mesmo comando, ele cita a ausência de tema como o diferencial do evento.
“Nunca tivemos o âmbito de uma discussão temática”, resume o arquiteto, esboçando a ideia de a mostra ser conduzida por uma mansa mão curatorial, incumbida acima de tudo de um propósito invisível, o de preparar o terreno para que os arquitetos apresentem, espontaneamente e sem filtros, os seus mais recentes trabalhos.
Na entrelinha de tal afirmação reside o vínculo estável que há entre a exposição geral da bienal de Buenos Aires e a sua prestigiada rodada de conferências. Defendidos por Sallaberry como a alma do evento, os seminários contam com palestrantes de primeiro time, automaticamente convidados a expor seus trabalhos na capital argentina.
Em 2011, quem esteve em Buenos Aires pôde acompanhar o pensamento e ver trabalhos recentes, entre outros, do espanhol Josep María Botey, do peruano Manuel Cuadra, do japonês Sou Fujimoto e do espanhol Guillermo Vázques Consuegra, que conquistou o prêmio máximo da BA11, dedicado ao conjunto da obra.
A exposição geral de arquitetos da NonaBIA foi desvalorizada. A setorização a espremeu perto da calota do prédio da Oca, num ambiente escuro e sem climatização
Exposição do programa New Practives, do Instituto de Arquitetos Americanos (AIA), na rodada nova-iorquina (expositores na cor preta)…
… e na correspondente paulista, feita em boa parte com as páginas abertas do folder de apresentação da iniciativa
Do Brasil, foram convidados Sibaud Guillaume (do escritório franco-brasileiro Triptyque) e a crítica Ana Luiza Nobre, que apresentou um painel sobre a arquitetura contemporânea do Rio de Janeiro. Todos reunidos, e em interação, num evento contínuo.
Para Sallaberry, são os seminários que impulsionam também a engrenagem da mostra geral de arquitetos. Nesse sentido, de vislumbre da curadoria por meio das conferências, o arquiteto diz ter aprendido com Glusberg que é sempre melhor errar para mais. Convidar mais palestrantes do que cabe na programação, sob o risco de ter que lidar com ausências repentinas, por exemplo.
Para Sallaberry, são os seminários que impulsionam também a engrenagem da mostra geral de arquitetos. Nesse sentido, de vislumbre da curadoria por meio das conferências, o arquiteto diz ter aprendido com Glusberg que é sempre melhor errar para mais. Convidar mais palestrantes do que cabe na programação, sob o risco de ter que lidar com ausências repentinas, por exemplo.
Quem seria como eu?
Das diferenças históricas entre as bienais de arquitetura de Buenos Aires e de São Paulo, portanto, são evidentes as relativas aos mecanismos operacionais e à existência ou não de temas estruturantes.
Já neste ano se evidenciou ainda a distinção entre a arquitetura do possível de Sallaberry e a bienal de momentos de Valter Caldana, curador do evento brasileiro. Trata-se, respectivamente, do eixo condutor das conferências argentinas de 2011 e da ideia de construir fisicamente a mostra paulista ao longo do seu período de exibição.
“Se eu fosse como você, quem seria como eu?”, citando uma frase de Sallaberry, é como se pode cotejar as dessemelhanças de concepção e gestão das vizinhas bienais de arquitetura.
A marca da direção inaugural de Sallaberry na Argentina foi ter pautado a escolha dos seus estimados conferencistas em função do vínculo que há entre a arquitetura atual e o acirramento de restrições de toda ordem, ambientais, econômicas etc.
Na outra ponta, sob o tema Construindo Cidadania: Arquitetura para Todos, a bienal de Caldana foi oposta ao perfil histórico da argentina, destacando-se, aqui, o próprio domínio de um tema.
Parte da exposição da bienal argentina, que esteve em cartaz em outubro no Centro Cultural Recoleta, em Buenos Aires
A ideia foi “discutir a arquitetura como disciplina e não como momentos ou práticas específicas, e trabalhar com arquitetos mais do que apresentar os seus projetos”, justificou Caldana o tom quase impessoal, genérico, de divulgação do evento já na iminência da sua inauguração. Ou seja, não por meio de nomes ou datas precisas, mas por assuntos e intervalos de tempo.
Operacionalmente, a opção pelo boletim relâmpago - a divulgação das palestras na antevéspera da sua realização - visou evitar tumulto, explica o curador, utilizando como exemplo as inúmeras ligações recebidas pelo IAB para esclarecer se o próprio Bjarke Engels, em pessoa, viria ao prédio da Oca para falar sobre o seu escritório, o BIG, da Dinamarca. Não, era um dos seus sócios.
Já conceitualmente, o que se buscou foi uma exposição “menos acadêmica e mais introspectada no universo profissional”, diz Caldana, ao se referir à tarefa de articular diversos segmentos que fazem, consomem e regulam a arquitetura. “Quando aceitei o convite do IAB, foi para promover diálogos”, ele enfatiza, defendendo a ideia de construir parte da exposição, com o material gráfico produzido com os arquitetos e o público em geral.
Tanta dispersão no tempo e no espaço - algumas mostras ocorreram em endereços distantes do prédio da Oca - acabou por criar uma bienal vazia e com aparência de inacabada. A setorização foi infeliz. Aquela que deveria ser a exposição mais importante do evento - a geral dos arquitetos - espremeu-se no terceiro andar da Oca, quase tocando a calota do edifício, em meio a um ambiente pouco iluminado e sem climatização. E, apesar de toda a boa vontade dos voluntários que trabalharam com o IAB na concepção dos painéis expositivos, a expografia deixou a desejar com seus cavaletes primários de MDF.
Em contrapartida, um quase descampado recebia os visitantes no andar térreo, sendo a esplanada de entrada ocupada por uma lojinha, por uma exposição de fotos de atendimento médico e pela espaçada mostra central dos cartazes das nove edições da bienal paulista. Estava prevista para este generoso espaço, no folder do evento, a realização de mostras temporárias, que não chegaram a ocorrer, pelo menos até a metade do evento.
Inexplicável, assim, o acanhado destino que teve a exposição dos jovens arquitetos de Nova York, ocupando um apertado canto do andar superior, assim como o deslocamento da exposição alemã para o Centro Cultural São Paulo. Por que, afinal, dispersar um evento se sobra tanto espaço em seu núcleo?
Mas do que se trata?
“Os europeus consideram a Bienal de Arquitetura de São Paulo a principal da América Latina, mas vocês precisam valorizá- la. A mostra deste ano não dá ideia do que acontece atualmente na arquitetura brasileira.” O relato de Monica Lebrao-Sendra, responsável no Institut Français pela divulgação internacional da arquitetura francesa, endossa o comentário geral dos que visitaram a NonaBIA, balbuciado pelos corredores da Oca.
Os franceses valorizaram o seu programa particular. Reprisando a mostra Metropolis?, que produziram no ano passado para a Bienal de Arquitetura de Veneza, sob a curadoria de Dominique Perrault (leia entrevista nesta edição), bancaram a vinda de uma delegação numerosa para conhecer São Paulo e debater o conceito de revitalização de territórios através da arquitetura urbana.
A Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), localizada na zona oeste da cidade, ofereceu a estrutura necessária - sistema de tradução, filmagem e lanches - para sediar as conversas do seminário Rendez-vous Metropolis, que se estendeu em uma visita de campo para se pensar a ocupação de uma área de intervenção do Renova SP, concurso de moradia popular promovido pela Secretaria de Habitação paulistana. No sábado, 5 de novembro, os franceses percorreram os estreitos caminhos da favela do Jaguaré, a que se seguiu um dos workshops da bienal.
Já os americanos pareciam pouco à vontade em sua visita ao evento. Era a sua vez na contrapartida do programa New Practices, de Nova York, que no primeiro semestre de 2011 levou aos Estados Unidos sete equipes brasileiras de arquitetura para receberem os louros da vitória do concurso de processo de projeto promovido anualmente pelo Instituto de Arquitetos Americanos (AIA).
Acontece que aos escritórios nova-iorquinos, anunciados desde maio de 2011 como participantes ilustres da bienal de São Paulo, sobrou a acanhada exposição na Oca, feita em boa parte com as páginas abertas do folder de apresentação da iniciativa.
Por sorte, o público resolveu comparecer minimamente ao debate sobre o projeto ocorrido em 4 de novembro, mesmo que anunciado na véspera e com a participação de apenas parte das equipes americanas. Na primeira etapa do projeto, contudo, os sete escritórios paulistas compareceram à mostra e ao debate, que foram realizados em Nova York.
Operacionalmente, a opção pelo boletim relâmpago - a divulgação das palestras na antevéspera da sua realização - visou evitar tumulto, explica o curador, utilizando como exemplo as inúmeras ligações recebidas pelo IAB para esclarecer se o próprio Bjarke Engels, em pessoa, viria ao prédio da Oca para falar sobre o seu escritório, o BIG, da Dinamarca. Não, era um dos seus sócios.
Já conceitualmente, o que se buscou foi uma exposição “menos acadêmica e mais introspectada no universo profissional”, diz Caldana, ao se referir à tarefa de articular diversos segmentos que fazem, consomem e regulam a arquitetura. “Quando aceitei o convite do IAB, foi para promover diálogos”, ele enfatiza, defendendo a ideia de construir parte da exposição, com o material gráfico produzido com os arquitetos e o público em geral.
Tanta dispersão no tempo e no espaço - algumas mostras ocorreram em endereços distantes do prédio da Oca - acabou por criar uma bienal vazia e com aparência de inacabada. A setorização foi infeliz. Aquela que deveria ser a exposição mais importante do evento - a geral dos arquitetos - espremeu-se no terceiro andar da Oca, quase tocando a calota do edifício, em meio a um ambiente pouco iluminado e sem climatização. E, apesar de toda a boa vontade dos voluntários que trabalharam com o IAB na concepção dos painéis expositivos, a expografia deixou a desejar com seus cavaletes primários de MDF.
Em contrapartida, um quase descampado recebia os visitantes no andar térreo, sendo a esplanada de entrada ocupada por uma lojinha, por uma exposição de fotos de atendimento médico e pela espaçada mostra central dos cartazes das nove edições da bienal paulista. Estava prevista para este generoso espaço, no folder do evento, a realização de mostras temporárias, que não chegaram a ocorrer, pelo menos até a metade do evento.
Inexplicável, assim, o acanhado destino que teve a exposição dos jovens arquitetos de Nova York, ocupando um apertado canto do andar superior, assim como o deslocamento da exposição alemã para o Centro Cultural São Paulo. Por que, afinal, dispersar um evento se sobra tanto espaço em seu núcleo?
Mas do que se trata?
“Os europeus consideram a Bienal de Arquitetura de São Paulo a principal da América Latina, mas vocês precisam valorizá- la. A mostra deste ano não dá ideia do que acontece atualmente na arquitetura brasileira.” O relato de Monica Lebrao-Sendra, responsável no Institut Français pela divulgação internacional da arquitetura francesa, endossa o comentário geral dos que visitaram a NonaBIA, balbuciado pelos corredores da Oca.
Os franceses valorizaram o seu programa particular. Reprisando a mostra Metropolis?, que produziram no ano passado para a Bienal de Arquitetura de Veneza, sob a curadoria de Dominique Perrault (leia entrevista nesta edição), bancaram a vinda de uma delegação numerosa para conhecer São Paulo e debater o conceito de revitalização de territórios através da arquitetura urbana.
A Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), localizada na zona oeste da cidade, ofereceu a estrutura necessária - sistema de tradução, filmagem e lanches - para sediar as conversas do seminário Rendez-vous Metropolis, que se estendeu em uma visita de campo para se pensar a ocupação de uma área de intervenção do Renova SP, concurso de moradia popular promovido pela Secretaria de Habitação paulistana. No sábado, 5 de novembro, os franceses percorreram os estreitos caminhos da favela do Jaguaré, a que se seguiu um dos workshops da bienal.
Já os americanos pareciam pouco à vontade em sua visita ao evento. Era a sua vez na contrapartida do programa New Practices, de Nova York, que no primeiro semestre de 2011 levou aos Estados Unidos sete equipes brasileiras de arquitetura para receberem os louros da vitória do concurso de processo de projeto promovido anualmente pelo Instituto de Arquitetos Americanos (AIA).
Acontece que aos escritórios nova-iorquinos, anunciados desde maio de 2011 como participantes ilustres da bienal de São Paulo, sobrou a acanhada exposição na Oca, feita em boa parte com as páginas abertas do folder de apresentação da iniciativa.
Por sorte, o público resolveu comparecer minimamente ao debate sobre o projeto ocorrido em 4 de novembro, mesmo que anunciado na véspera e com a participação de apenas parte das equipes americanas. Na primeira etapa do projeto, contudo, os sete escritórios paulistas compareceram à mostra e ao debate, que foram realizados em Nova York.
No sábado, 5 de novembro, a delegação francesa que particiou do seminário Rendes-vouz, Metropolis foi conhecer a favela do Jaguaré, área de intervenção do concurso Renova SP
A difícil missão de julgar
Espinhosa a tarefa do júri, portanto, que esteve encarregado de conceder os prêmios da bienal de São Paulo, fragmentada e com uma exposição geral sem organização aparente - exceto, talvez, a de dispor as pranchas conforme a disponibilidade de maquetes, alternadamente nos corredores de exibição. Uma bienal desprovida de distinções primárias, como as entre obra construída e projeto, trabalho nacional ou estrangeiro.
Das estatísticas possíveis de se esboçar em meio à sequência de trabalhos da mostra geral, 15% eram relacionados a transportes (estação de metrô, aeroporto, terminal marítimo, teleférico); 11,5% a moradias, a maior parte multifamiliar; 4% ao programa esportivo; 14% ao ensino; 21% à área cultural (dos seis espaços expositivos exibidos, três eram galerias de Inhotim); 4% à saúde; 17% a urbanismo ou desenho urbano, levando-se em conta os experimentais protótipos para arranjos de bairros ou assentamentos em situações emergenciais; 4% comerciais e, por fim, 9,5% de projetos corporativos. Havendo quase o equilíbrio entre a participação brasileira e a estrangeira, respectivamente 58% e 42% dos trabalhos, e a predominância de projetos não construídos (60%).
De evidente mesmo, a única ordem era a da disposição da mostra digital no centro da sala, uma seção defendida pela curadoria como espaço para a experimentação de novas formas de visualizar a arquitetura. Feitas as contas, devem ter se exibido perto de 200 projetos digitalmente, que é a quantidade faltante dos que ocuparam os suportes físicos para os duzentos e tantos inscritos na exposição geral da NonaBIA.
Ao menos dois problemas decorrem da ênfase nesse tipo de suporte: a apresentação dos trabalhos não foi planejada para esse fim (qual o sentido de ver arquivos estáticos de PDF num monitor de vídeo?). E estariam tais projetos também pautados para as premiações da bienal?
Se a resposta é sim, então eles saíram em dupla desvantagem: frequentemente boa parte dos monitores parava ou apresentava problemas de interface, e a visualização fragmentada - página por página, como uma convencional sequência de pranchas físicas - comprometia a compreensão global e a memorização do trabalho. E o mesmo vale para o concurso internacional dos estudantes de arquitetura, cuja visualização dos projetos estava restrita aos monitores laterais do segundo anda.
Terá sido, uma escolha curatorial ou mais uma questão operacional, tendo a organização do evento arcado com o custo das impressões das pranchas?
Seja como for, transcorrida metade do tempo de vida da bienal, não se tinha ideia de quando seriam anunciados os premiados, nem se haveria um catálogo. Do que vamos nos lembrar desta edição, então?
Ao menos se compilassem as dinâmicas dos workshops a fim de se compartilhar impressões como a do estudante Antonio Brandão de Souza Neto, da Faap, que fez trio com o colega de escola Murilo Mattiello Gabrielle e com o estudante Tristan Bonzon, da Escola da Cidade, eleitos na seletiva de última hora armada pelas faculdades quando se decidiu pela realização do seminário Rendes-vouz na Faap. Eles documentaram as visitas e a roda de discussão sobre a área de intervenção no Jaguaré.
Relata Antonio Brandão: “Deve ter sido muito impactante a visita para os franceses, eles nunca tinham entrado numa favela e não entendiam que as pessoas gostam de morar lá. Falaram muito sobre as possibilidades dos vazios nas suas palestras do dia anterior na Faap mas, no outro dia, perceberam que esta não é a prioridade em bairros como Jaguaré. No retorno ao Ibirapuera, sua ideia era fazer um parque linear, que ficou logo em segundo plano porque o que mais se discutiu no workshop foi habitação para os moradores”.
Momentos, enfim, de difícil sedimentação, que nos fazem refletir sobre a utilidade uma bienal de arquitetura mirabolante.
Espinhosa a tarefa do júri, portanto, que esteve encarregado de conceder os prêmios da bienal de São Paulo, fragmentada e com uma exposição geral sem organização aparente - exceto, talvez, a de dispor as pranchas conforme a disponibilidade de maquetes, alternadamente nos corredores de exibição. Uma bienal desprovida de distinções primárias, como as entre obra construída e projeto, trabalho nacional ou estrangeiro.
Das estatísticas possíveis de se esboçar em meio à sequência de trabalhos da mostra geral, 15% eram relacionados a transportes (estação de metrô, aeroporto, terminal marítimo, teleférico); 11,5% a moradias, a maior parte multifamiliar; 4% ao programa esportivo; 14% ao ensino; 21% à área cultural (dos seis espaços expositivos exibidos, três eram galerias de Inhotim); 4% à saúde; 17% a urbanismo ou desenho urbano, levando-se em conta os experimentais protótipos para arranjos de bairros ou assentamentos em situações emergenciais; 4% comerciais e, por fim, 9,5% de projetos corporativos. Havendo quase o equilíbrio entre a participação brasileira e a estrangeira, respectivamente 58% e 42% dos trabalhos, e a predominância de projetos não construídos (60%).
De evidente mesmo, a única ordem era a da disposição da mostra digital no centro da sala, uma seção defendida pela curadoria como espaço para a experimentação de novas formas de visualizar a arquitetura. Feitas as contas, devem ter se exibido perto de 200 projetos digitalmente, que é a quantidade faltante dos que ocuparam os suportes físicos para os duzentos e tantos inscritos na exposição geral da NonaBIA.
Ao menos dois problemas decorrem da ênfase nesse tipo de suporte: a apresentação dos trabalhos não foi planejada para esse fim (qual o sentido de ver arquivos estáticos de PDF num monitor de vídeo?). E estariam tais projetos também pautados para as premiações da bienal?
Se a resposta é sim, então eles saíram em dupla desvantagem: frequentemente boa parte dos monitores parava ou apresentava problemas de interface, e a visualização fragmentada - página por página, como uma convencional sequência de pranchas físicas - comprometia a compreensão global e a memorização do trabalho. E o mesmo vale para o concurso internacional dos estudantes de arquitetura, cuja visualização dos projetos estava restrita aos monitores laterais do segundo anda.
Terá sido, uma escolha curatorial ou mais uma questão operacional, tendo a organização do evento arcado com o custo das impressões das pranchas?
Seja como for, transcorrida metade do tempo de vida da bienal, não se tinha ideia de quando seriam anunciados os premiados, nem se haveria um catálogo. Do que vamos nos lembrar desta edição, então?
Ao menos se compilassem as dinâmicas dos workshops a fim de se compartilhar impressões como a do estudante Antonio Brandão de Souza Neto, da Faap, que fez trio com o colega de escola Murilo Mattiello Gabrielle e com o estudante Tristan Bonzon, da Escola da Cidade, eleitos na seletiva de última hora armada pelas faculdades quando se decidiu pela realização do seminário Rendes-vouz na Faap. Eles documentaram as visitas e a roda de discussão sobre a área de intervenção no Jaguaré.
Relata Antonio Brandão: “Deve ter sido muito impactante a visita para os franceses, eles nunca tinham entrado numa favela e não entendiam que as pessoas gostam de morar lá. Falaram muito sobre as possibilidades dos vazios nas suas palestras do dia anterior na Faap mas, no outro dia, perceberam que esta não é a prioridade em bairros como Jaguaré. No retorno ao Ibirapuera, sua ideia era fazer um parque linear, que ficou logo em segundo plano porque o que mais se discutiu no workshop foi habitação para os moradores”.
Momentos, enfim, de difícil sedimentação, que nos fazem refletir sobre a utilidade uma bienal de arquitetura mirabolante.
Fonte: Arco Web
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