segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Crianças e Finanças: Elas estão cada vez mais conscientes

colunista tas crianças e finanças (Foto: Tiago Gouvêa)
O primeiro dinheiro que ganhei na vida, aos 6 ou 7 anos, foi por conta da minha relação precoce como jornalismo. Numa ida ao açougue com meu pai, observei que o estabelecimento usava jornal velho para embalar as carnes. Puxei assunto com o cara do balcão, negociei as bases de um acordo e virei fornecedor fiel do açougueiro da esquina. Passei a olhar para os jornais já lidos, esparramados pela casa dos meus pais, com outros olhos.Que dinheirão desperdiçado, pensei.
Evidentemente, não era dinheirão algum. Depois de uma curta caminhada até o açougue equilibrando a pilha de papel sobre minha bicicleta, sentia enorme orgulho ao ver meu cliente jogar a jornaleira velha sobre o prato da balança, aferir o resultado e fechar o negócio solenemente:
– Sete quilos e meio!
Voltava para casa com uns trocados miúdos no bolso, mas feliz da vida. Era a concretização do meu esforço traduzido em notas e moedas. Mais tarde as trocava por balas, pacotes de figurinhas ou qualquer outra bobagem mais divertida que a pilha de jornal velho inútil que
crescia dia a dia num canto da minha casa como areia numa ampulheta. Não fiquei rico, mas surgiu ali um entendimento do dinheiro como recompensa pelo suor do trabalho.

Queiramos ou não, as crianças hoje tomam consciência do dinheiro e viram consumidores cada vez mais cedo. Especialistas sugerem que o assunto “finanças” entre na vida dos filhos já aos 2 ou 3 anos!

Recentemente,um pai de Cacoal, Rondônia, fez sucesso na internet ao publicar uma ferramenta inusitada. Vitor Yamada criou uma tabela que mostra a mesada dos seus dois filhos sendo corroída por multas aplicadas a cada “infração” cometida por eles. Reclamar para ir à escola, por exemplo, lhes custa R$ 1; deixar a TV ligada, R$ 0,50 e desobedecer pai ou mãe, R$ 3! A intenção do sr. Yamada, um juiz do Trabalho, pode até ser boa. Só que a técnica de desconto no “salário” ou multas é válida para empresas e o trânsito das cidades.Não creio que o mesmo raciocínio resolva a educação das crianças. na minha infância no interior, entre bois e vacas, meu avô João, o patriarca da família, tinha um método inusitado de iniciação das crianças à vida das finanças. a cada neto que nascia, ele dava de presente um bezerro e uma marca de ferro com as iniciais do bebê. Entendo que para quem vive no mundo urbano, politicamente correto dos dias atuais, possa parecer chocante uma criança ser iniciada no mundo do trabalho como que é hoje considerado um objeto de tortura: o ferro de marcar gado. Posso garantir que a experiência de aprender amarcar e a vacinar não me transformou num monstro torturador de animais. Ao contrário, acompanhar e cuidar do crescimento de bezerros ao lado de suas mamães vacas foiuma escola e tanto. Aprendi na prática a me comunicar, respeitar e ter afeto pelos bichos desde cedo.E ainda: que o eventual ganho com a venda do bezerro crescido era resultado do mérito do trabalho.

De minha parte, fico chocado é quando vejo crianças educadas e estimuladas para omundo das finanças meramente através do consumo.O mundo material é parte, mas não o centro nem a finalidade da nossa curta passagem por aqui.

Fonte: Crescer

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