Foram preservados os elementos decorativos que caracterizam a ambiência kitsch do Joia
Música resgata Joia da colônia japonesa
A julgar pelo histórico de projetos concebidos nos últimos anos pelo arquiteto Marcos Paulo Caldeira, o bairro da Liberdade, em São Paulo, está prestes a ingressar no roteiro de um público moderninho, habituado a frequentar a nobre região dos Jardins ou a zona sul da cidade. É, ao menos, o que promete a abertura da casa de espetáculos Cine Joia, em novembro passado, na até então pacata praça Carlos Gomes.
A nova casa de shows em São Paulo foi implantada em uma construção inaugurada em 1952, onde funcionou o Cine Joia, ponto de encontro da colônia japonesa em São Paulo naquela década, para assistir a filmes produzidos em seu país de origem.
O arquiteto Marcos Paulo Caldeira empreendeu um trabalho de resgate dos materiais e elementos decorativos originais que resistiram a anos de abandono, iniciado por volta de 1980, e às atividades de igreja e até estacionamento de veículos que o imóvel abrigou posteriormente.
Piso de tacos, barrados de ripa contornando todo o salão principal, assim como as arquibancadas dos camarotes superiores, a cor verde da fachada e dos interiores, e os apliques e faixas sobressalentes de gesso são os elementos com que o arquiteto lidou em seu projeto.
A fachada foi parcialmente restaurada, resgatando-se a tonalidade verde das pastilhas que a reveste
É na interação da luminotécnica com o decorativismo restaurado que reside a identidade do projeto, moderno e retrô ao mesmo tempo
O antigo salão do cinema, transformado no espaço de apresentações musicais, ocupa praticamente toda a área de projeção do imóvel.
O acesso ocorre quase que imediatamente a partir da rua - exceto pelo pequeno hall lateral de entrada -, o que faz da fachada um importante elemento de comunicação da identidade arquitetônica.
Nela, foram restauradas as pequenas pastilhas cerâmicas na tonalidade verde e inserido um barrado de ladrilho que reproduz um desenho ampliado do mapa de São Paulo.
Há uma série de grafismos na face externa do imóvel, o que se repete em sua área interna.
As aberturas do caixa têm a forma de diamante
O hall de entrada foi demarcado pela luminária especial, feita com formato de diamante vazado
O salão em forma de concha, por exemplo, é circundado por duas paredes de pé-direito duplo, demarcadas pela malha diagonal desenhada pelas faixas contínuas de apliques de gesso.
Esse é o cenário que circunda o palco de madeira, cujo escalonamento original foi recuperado em par com o forro acústico.
Esses elementos preservados, de linguagem quase kitsch até, interagem com a luminotécnica e projeções luminosas a eles superpostas.
Dependendo da intensidade da luz e do tipo de grafismo projetado nas grandes paredes laterais, a referência da malha diagonal dos frisos de gesso chega a desaparecer.
Já no andar superior, as antigas arquibancadas do cinema foram agregadas, de três em três, em novos patamares de concreto, que funcionam como camarotes.
Eles reproduzem o piso de madeira existente no térreo e têm mobiliário produzido pela loja de design Micasa, inspirado em desenho criado por Charles e Ray Eames.
A organização caótica da edificação deu margem à criação de descontraídas salas reservadas, como camarins, pista privativa e até uma área aberta para fumantes.
Nelas, destaca-se a arte urbana e mural do artista Frank Dezeuxis, colaborador do projeto. O resultado é uma colagem de referências diversas, tanto de estilo quanto de tempos.
O piso de madeira foi restaurado e complementado nas novas lajes dos camarotes
Pinturas murais do artista Frank Dezeuxis interagem com o decorativismo da casa, como nesta pequena sala de dança, de uso privativo
Detalhe da interação das imagens luminosas com os nichos das paredes laterais do salão principal
Imagens cruzadas e mutantes, provenientes de dois projetores, recobrem os nichos das paredes laterais do palco
Pinturas murais do artista Frank Dezeuxis interagem com o decorativismo da casa, como nesta pequena sala de dança, de uso privativo
Fonte: Arco Web
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