sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Você pode fazer também: Paulistanos se unem, voluntariamente, para plantar hortaliças em espaços abandonados da cidade

Horta dos ciclistas (Foto: Luis Gomes/Editora Globo)
Da próxima vez que você passar pelo cruzamento da avenida paulista com a Rua da Consolação, repare em uma plantação onde crescem pés de alface, ramos de salsinha e de hortelã. A praça dos Ciclistas, espaço de 15 m² famoso por ser ponto de encontro de atletas, tornou-se horta urbana. Não muito distante dali, os 800 m² da praça Dolores Ibarruri, em alto de pinheiros, também foram tomados não apenas por hortaliças, mas por flores e frutas, no total de 80 espécies. Fundada por Madalena Buzzo, empresária, Joana Canedo, tradutora, e pela jornalista Claudia Visoni, a Horta das Corujas é a precursora de um novo comportamento na cidade: o de ocupar espaços públicos em prol da alimentação saudável. Presente em países como Inglaterra, Portugal e Argentina, o modelo de horta urbana conta apenas com a iniciativa da comunidade, que se encarrega tanto do trabalho braçal como dos suprimentos necessários ao cultivo: terra, adubo, mudas, ferramentas. Enquanto você lê esta reportagem, brotam alhos, couves, rabanetes, rúculas e diversas outras verduras na Horta da Vila Pompeia, espaço de 150 m², também na zona oeste.
Não existem dados oficiais quanto ao número de hortas urbanas em São Paulo. O ponto em comum entre todas elas, porém, é o caráter comunitário. “Quando tivemos de resolver uma questão de abastecimento de água, surgiu um voluntário que era hidrogeólogo, graduado em londres. Há quem tenha morado na roça e traga conhecimento adquirido”, conta Madalena, da Horta das Corujas. No âmbito da troca de experiências, a internet é ferramenta fundamental. Hoje, cerca de 6 mil pessoas formam o grupo Hortelões Urbanos, no Facebook. “A atividade ainda está incipiente, mas se pensarmos que há dois anos nenhuma dessas hortas existia, avançamos bastante”, afirma Claudia.
Horta dos ciclistas
Começou em outubro de 2012 após um mutirão de limpeza organizado por ciclistas. “Queríamos transformar o espaço em algo útil, vivo”, diz o argentino Ariel Kogan. Adubo e terra vieram para o plantio de árvores. Assim que o local se mostrou fértil, semearam-se as hortaliças. O ponto polêmico dessa horta, que fica na Avenida Paulista com a Rua da Consolação, é o contato com a poluição. “A fuligem não sai das folhas por completo. Em locais assim, recomendo espécies de crescimento sob o solo, como cenoura e beterraba”, alerta Teresa Jocys, engenheira agrônoma do Instituto Biológico de São Paulo. Na foto à esquerda, o advogado e voluntário Luciano Santos.
Horta da Vila Pompeia
Na altura do número 500 da Rua Francisco Bayardo, na Pompeia, até o início deste ano havia um descampado. Juntos, o consultor comercial Adriano Sampaio e o mecânico Leandro Sabiá, moradores da rua, começaram a plantar árvores no terreno. “Outros vizinhos se interessaram, trouxeram ferramentas ou mudas e assim o projeto cresceu”, conta Adriano. Hoje, ali vingam 30 espécies. A plantação não supre a demanda de toda a comunidade. Independente disso, o local é ponto de encontro no bairro. “Em abril, comemorei meu aniversário na horta. Levei toca-discos e a festa foi lá mesmo”, diz o consultor.
Horta das corujas
A primeira das hortas urbanas, em Alto de Pinheiros, ocupa 800m² e reúne mais de 20 colaboradores ativos, que se revezam nas regas, na manutenção dos canteiros e na organização dos mutirões. Nos fins de semana, o número de voluntários chega a 50. “Conseguimos tudo na raça. Com o apoio da prefeitura, o projeto ficará mais fácil”, diz a jornalista Claudia Visoni, que luta pela regulamentação da prática na cidade. Na foto, a empresária Madalena Buzzo, cofundadora, que há seis anos se dedica ao local.
Horta da Vila Pompeia. Na foto ao lado, Horta das corujas (Foto: Luis Gomes/Editora Globo)
Pode ou não pode?
As hortas urbanas estão em crescimento, mas ainda assim não há regras específicas sobre o tema. Diante disso, a jornalista Claudia Visoni organizou um grupo que temse reunido com as secretarias do Verde e do Meio Ambiente, de Desenvolvimento Urbano e de Abastecimento em busca da regulamentação. “Detalhamos, em uma carta, o caminho que vemos para que isso dê certo como política pública”, conta. “Nesse momento, o importante é a certeza de que não estamos fazendo algo proibido”. Quanto ao uso da horta pelos cidadãos, as regras são mais claras: qualquer pessoa pode colher o que quiser – este é um dos princípios do movimento. Por serem áreas públicas, não se pode isolá-las com portões ou grades. Há, sim, cercas baixas e sem trincos, que impedem apenas a entrada de animais. Para criar uma horta no seu bairro, procure a Cetesb e solicite o mapa das regiões com água e solo contaminados. Se for este o caso do seu bairro, o plantio deverá ser feito em canteiros suspensos, com água, composto e terra de outro local.

Fonte: Casa e Jardim

Nenhum comentário:

Postar um comentário