Massa branca, madeira e a textura do cobogó constituem a visualidade externa da casa
Na cidade, como no campo
Projeto piloto no escritório de Marcio Kogan no que diz respeito à sistematização do tema sustentabilidade, a casa Cobogó, em São Paulo, tem muro de barro, piscina sem tratamento químico, laje verde, reúso de água e aquecimento solar. “Demanda do cliente”, informa Kogan, utilizada para balizar sua arquitetura bem ventilada e iluminada naturalmente, disposta de acordo com o vento e a trajetória do sol.
O pátio térreo é o eixo do projeto da casa Cobogó. Para ele estão direcionados os diversos ambientes, organizados alternadamente em L nos três pavimentos aparentes, ao redor da área aberta central.
E, então, uma piscina com jeito de lago natural, dadas a forma orgânica e a vegetação envoltória de arbustos e espécies rasteiras, divide a cena com uma bela figueira, acompanhadas pelo piso cimentado entremeado por malha irregular de grama. A casa urbana tem ar de campestre.
A terra removida na escavação da piscina, cujo tratamento da água prescinde da utilização de agentes químicos, foi parar no muro, aplicada em quadros retangulares.
“Foi divertido e fez parte dos procedimentos de sustentabilidade”, declaram Marcio Kogan e Carolina Castroviejo, autores do projeto arquitetônico.
É sutil a transição do exterior para o interior da casa
Os pisos do pátio e da varanda enfatizam a continuidade da casa no exterior
A laje verde, contraposta ao volume branco dos dormitórios, recobre a sala lateral
É sutil a transição do espaço externo para o interior, tanto pelo fato de os pisos da sala e do pátio serem quase coplanares quanto pela divisão entre eles ocorrer através de portas deslizantes de vidro, sem caixilho, com cerca de quatro metros de largura cada.
Tamanha generosidade é, contudo, contrabalançada pelo pé-direito de 2,40 metros, que, no bloco transversal da cozinha e sala de música e televisão, contou com o rebaixamento do piso no miolo da laje, recurso tradicional no repertório de Kogan.
Resta o sócolo sob a dupla janela - de vidro e painel perfurado de madeira - que, no lado externo, se alinha ao piso do pátio.
O ajuste fino, apenas um degrau de desnivel, garante o conforto dos interiores sem comprometer a delicada aparência externa do volume ortogonal.
O programa foi organizado linearmente, são superfícies contínuas que demarcam os setores da casa.
Desde a sala, uma parede revestida com madeira se transforma no caixilho contínuo, de abertura sanfonada, que delimita o volume da cozinha e da sala, enquanto o muro interno lateral, que serve de fachada ao estar, resguarda os interiores da entrada de serviço e veículos (a garagem fica no subsolo).
As paredes estão associadas aos dois blocos deslocados entre si, destacando-se a sua quase equivalência linear - por volta de 25 metros de largura - e a alternância de tonalidades.
Iluminados pela base, no lado interno da casa, os cobogós permitem a passagem da luz
Detalhe da fachada de cobogó. Parece plana, mas seu desenho é tridimensional
Os cobogós desenhados nos anos 1950 por Erwin Hauer recobrem o bloco do spa
Da natural, de madeira, à massa de cor branca que reveste o bloco suspenso dos dormitórios, um tipo de sincronismo, enfim, viabilizado pela relação estreita entre a arquitetura e o projeto de interiores, assinado em coautoria por Diana Radomysler.
Na cobertura, o volume do spa é revestido em L por cobogós especiais. Criadas nos anos 1950 pelo alemão Erwin Hauer, cujo trabalho de formas orgânicas busca inspiração nos arranjos geométricos da natureza, as peças de cimento e agregado de mármore foram utilizadas pioneiramente, nesta casa, expostas às intempéries.
“Normalmente, para uso interno, empregamos uma mistura de cimento e gesso. Ainda que exista atualmente um aditivo polímero que torna o gesso resistente à água, neste trabalho preferimos um material reconhecidamente durável”, revelou Hauer a PROJETO DESIGN.
Para Kogan, a escolha do cobogó alemão se deveu à dinâmica de sombras geradas pelo seu desenho tridimensional, o que faz da cobertura da casa um volume sempre mutante - inclusive à noite, quando a iluminação natural dos interiores, posicionada na base da extensão em L dos cobogós, transforma o spa numa espécie de lanterna, de escala arquitetônica.
Depois do primeiro semestre pontuado por viagens ao exterior - está desenvolvendo projetos até no Vietnã -, Kogan se prepara para representar o Brasil na próxima Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza, que deve ser aberta em setembro.
Corredor lateral do spa, com os reflexos do sol filtrados pelos cobogós
O painel de madeira da sala estende‑se ao pátio
Eleito pelo curador Lauro Cavalcanti, o arquiteto paulistano vai dividir a cena, no Pavilhão Brasil, com a remontagem de uma instalação de Lucio Costa.
“É uma grande honra para mim”, ele relata, enquanto desfruta da recém-inaugurada sala de reuniões e pátio de convívio implantados em seu escritório, em São Paulo.
Texto de Evelise Grunow
O corredor de acesso aos dormitórios é ladeado pela fachada de blocos de vidro
O sócolo junto às portas sanfonadas faz a transição da cota externa para a interna da sala
O muro lateral (ao fundo) foi revestido com a terra de escavação da piscina
Esquema da ocupação sequencial do lote pelas paredes e blocos que conformam a casa
Fonte: Arco Web
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