Extrovertido, o bloco esportivo abre-se para as extremidades
Genética única e perfis diferentes
Agregada à residência no Alto de Pinheiros, zona oeste paulistana, a área esportiva é uma espécie de filha temporã do projeto original, nascida quase duas décadas depois. Por isso, ao mesmo tempo que guarda com ele ligação de natureza umbilical, contrapõe-se em alguns aspectos: enquanto um tem perfil ensimesmado, a outra se apresenta comunicativa, viva, alegre. Ambos foram projetados pelo arquiteto Samuel Kruchin.
Se pesquisadores da arquitetura brasileira, mais especificamente das casas paulistanas, tivessem que classificar de alguma forma a residência Capobianco, localizada no Alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, encontrariam na moradia reverberações de obras dos mestres da chamada escola paulista (como, por exemplo, Paulo Mendes da Rocha e João Batista Vilanova Artigas), por sua estética brutalista, assim como também veriam ali nuances da obra de Ruy Ohtake.
A face principal da residência tem aberturas mínimas
O volume da moradia é introspectivo, fechado para o exterior, e a busca da luz se faz em direção ao alto
O concreto aparente, material caro a esses autores, é o elemento essencial na composição de autoria do arquiteto Samuel Kruchin.
Embora reconheça certa influência desses profissionais no trabalho, Kruchin argumenta que a moradia é também uma referência crítica à organização espacial interna em geral extremamente racional e pura, presente na maior parte das obras residenciais vinculadas àquela escola.
Para ele, o mundo íntimo apreendido no seu trabalho é de outra natureza: convulsionado, vibrante, agitado.
E o projeto, pondera, exterioriza essa condição com a estampa da borboleta (um desenho infantil transposto para a parede) vazada no concreto, simbolizando o universo mutante, em transformação.
A casa é a catalisadora desse movimento. E seu centro, a área de estar rebaixada, de onde se projeta a escada escultórica, é figura fundamental no sentido de, no núcleo dessa convulsão, fomentar a aproximação, a unidade.
“É um projeto que fala da intimidade abrindo-se para o alto à procura da luz que faz germinar”, teoriza Kruchin, acrescentando ainda que a escada representa o cordão umbilical desse nascimento.
O programa, contudo, foi solucionado de forma simples: o pavimento inferior reúne os ambientes de convivência e o superior concentra as áreas íntimas.
Quase duas décadas depois, a área esportiva veio ocupar o lote ao fundo, agregado ao terreno original.
Para o arquiteto, o interior convulsionado é uma referência crítica ao racionalismo da escola paulista
Plasticamente, a composição é díspar em relação à sua antecessora, também em razão do programa que abriga: sala de jogos e aparelhos para condicionamento físico e piscina.
Transparente e comunicativo, o bloco de conformação ortogonal abre-se para as extremidades, com uma placa central compartimentando os ambientes. Para Kruchin, a construção possui uma geometria lírica. “Quis que o desenho se convertesse em forma”, justifica.
Há contrapontos entre uma e outra construção, como o fato de uma exteriorizar- se minimamente e em direção ao alto, enquanto a outra se abre amplamente e para as extremidades.
Mas elas se aproximam em outros aspectos, revelando a genética comum em detalhes como o material que as estrutura (o concreto) e a apropriação do elemento escultórico (no rasgo da cobertura da piscina e na escada interna que liga os dois pisos).
Nos próximos anos, um novo descendente deverá se juntar a ambas: Kruchin já projetou, ao lado da casa original, o volume da biblioteca/ sala de vídeo.
Texto de Adilson Melendez
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 387 Maio de 2012
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 387 Maio de 2012
Área de estar no pavimento inferior da construção destinada à área esportiva
Rasgo no alto da cobertura da piscina
Fonte: Arco Web
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