Nota de real e dólar: o Ministério da Fazenda avalia que, se necessário, o BC pode intervir, como já fez na crise em 2009
São Paulo - Depois que a atuação coordenada do Banco Central (BC) e do Tesouro falharam em segurar a cotação do dólar esta semana, como se verificou em mais uma injeção de dólares no mercado ontem, a presidente Dilma Rousseff começou a definir uma nova tática para a atuação do governo.Ontem, a oferta de US$ 1,774 bilhão não foi suficiente para conter a alta da moeda americana. O esforço foi em vão e o dólar fechou a R$ 2,436 - maior patamar desde 2 de março de 2009 -, um avanço de 1,75% em relação ao dia anterior.
A expectativa pela divulgação da ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) fez o mercado iniciar o dia nervoso e a volatilidade só aumentou após a divulgação do documento à tarde.
A ata, apesar de não deixar claro quando começa a redução dos estímulos à economia dos Estados Unidos, diz que eles devem terminar em meados de 2014 "se a economia melhorar, como se espera". Na prática, isso significa menos dólares no mercado global e uma economia americana mais atrativa ao capital internacional, em detrimento de países emergentes como Brasil.
Estratégia. A persistente e inquietante volatilidade do câmbio vai exigir do governo uma nova postura para definir em até que patamar o real pode se desvalorizar, seu impacto na inflação e a necessidade ou não de o BC operar no mercado à vista, hipótese que não tem a concordância, pelo menos neste momento, da própria autoridade monetária.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, cancelou sua viagem anual a Jackson Hole (EUA) e toda a diretoria do BC foi instada a permanecer em Brasília. Dilma, Tombini e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reuniram-se no início da noite para amarrar a nova abordagem.
O Ministério da Fazenda avalia que, se necessário, o BC pode intervir, como já fez na crise em 2009, sem dar a entender que os US$ 374 bilhões de reservas desaparecerão em curto espaço de tempo, aprofundando a crise econômica.
Essa é uma das avaliações feitas em conjunto com a presidente Dilma ontem. Os dias têm sido difíceis para conter a escalada do dólar porque economistas do governo identificaram que parte da proteção à variação cambial (hedge) está sendo negociada no mercado secundário. Por isso mesmo, a necessidade de diferenciar as ações especulativas das que o mercado demanda como hedge contra a desvalorização do real.
Joio do trigo
A ideia foi separar o joio do trigo para identificar os movimentos especulativos e atacá-los de frente. O BC não considera que o mercado de câmbio esteja disfuncional, ou seja, sem referência para os preços. As intervenções do banco e a ação coordenada com o Tesouro estão ocorrendo para dar a liquidez necessária ao mercado. Banco Central e Fazenda consideram que, enquanto persistir a dúvida sobre o "timing" da retirada dos incentivos à economia americana, a tendência do real é a desvalorização.
A alta do dólar, por sua vez, reflete o movimento do fluxo de capitais internacionais para os EUA. "A ata do Fed, divulgada ontem, foi ambígua porque, ao mesmo tempo em que mantém a dúvida sobre o momento para a retirada dos estímulos financeiros para irrigar a economia americana, também afirma que existe a preocupação de a retomada da atividade nos EUA ainda não dar sinais suficientes para a retirada dos estímulos", disse uma fonte ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
O fato é que, apesar dos esforços do BC, os profissionais do mercado veem mais possibilidades de o dólar romper os R$ 2,50 do que de a moeda voltar para os R$ 2,30. "O mercado, na dúvida, acaba correndo para o dólar. E com todo o cenário que a gente está vendo, no Brasil e no exterior, parece que o dólar vai buscar os R$ 2,50", diz um profissional da mesa de câmbio de um banco. (Colaborou Francisco Carlos de Assis). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Exame
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