quarta-feira, 17 de julho de 2013

Essa casa feita de concreto dá impressão de que está flutuando

  (Foto: Maíra Acayaba)Fachada dos fundos: o volume tem 6 m em balanço e brise de laminado, da Pertech, feito pela Serralheria Moreno e instalado por Araujo & Farsoni. No vão livre, mesa do Depósito Santa Fé. Objetos, da L’Oeil (Foto: Maíra Acayaba)
Desde a época de estudante na Universidade de São Paulo, a arquiteta urbanista Adriana Rolim tem paixão pelo estilo brutalista, que aprendeu com os mestres da escola paulista: Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha, vencedor do prêmio Pritzker em 2006. Na hora de construir sua casa no bairro City Boaçava, em São Paulo, ela não teve dúvida: quis nela a estética das estruturas de concreto armado aparente e linhas retas. Encomendou o projeto de seus sonhos aos arquitetosFernando de Mello FrancoMarta Moreira e Milton Braga, do escritório MMBB, que fazem trabalhos com Mendes da Rocha.

Austera, imponente e sustentável, a casa de 300 m² tem formato de caixa e é construída com poucos materiais e elementos, todos confeccionados de maneira artesanal no próprio canteiro de obra: desde a estrutura de concreto armado até os caixilhos metálicos. Um exemplo é o conjunto de escadas de aço, desenhado pelos arquitetos especialmente para o projeto, que está somente fixado nas lajes, exibindo suas presilhas, sem maquiagem alguma. “Fiz tudo para ter uma casa única”, afirma Adriana.

Para atender do melhor jeito ao pedido da moradora, os arquitetos tiveram de desenvolver uma estratégia espacial no terreno relativamente pequeno, com 480 m² e ligeiro aclive. “Como o lote fica encravado entre outros, eles isolaram as laterais com as empenas (paredes de concreto) de 15 metros de comprimento e até 6,5 metros de altura para que eu não veja os vizinhos”, explica Adriana. Em consequência disso, foi necessário criar o espaço vazio no meio da construção. Assim, os ambientes fechados por painéis de vidro ficam voltados para dentro desse pátio descoberto e conseguem receber iluminação natural.

Nesse espaço central estão instaladas as escadas que interligam os quatro pavimentos: do subsolo, onde fica a garagem, à laje de cobertura. Esta última área foi transformada em terraço com deque de madeira e espelho-d’água. Ali no alto a moradora toma sol e desfruta da ampla vista da cidade.
  (Foto: Maíra Acayaba)Pátio interno: a circulação acontece pelo vazio central com piso de pedras portuguesas e escadas de aço, desenhadas pelos arquitetos e confeccionadas pelo serralheiro Carlos Augusto Stefani. A da esq. desce para a garagem, no subsolo. À dir., totens de Kimi Nii no paisagismo de Isabel Ruas (Foto: Maíra Acayaba)
Um nível abaixo fica a área íntima, com as duas suítes que ocupam as fachadas, em posições opostas, separadas pelo pátio interno. No corredor, que as interliga, Adriana criou um longo escritório, junto a uma das paredes laterais que é totalmente fechada. “Na frente é usado por mim e, nos fundos, por meu filho, que é músico”, diz a moradora, que revestiu o pavimento superior com assoalho de ipê. Como as fachadas possuem apenas esquadrias com vidro, os quartos são protegidos pelos brises, feitos de laminado melamínico, que permitem o controle da entrada de luz.

Todo o volume da construção é apoiado em quatro pilares redondos de concreto, dois em cada uma das duas empenas, distantes 5 metros entre si. “As lajes suspensas liberam quase o térreo inteiro para a circulação nas áreas externas de estar”, explica Adriana. Sobram ainda 6 metros do volume em balanço na direção das duas fachadas.

Nos fundos, o espaço sob o pavimento superior deu origem à varanda no térreo. Ao lado, separados apenas pelas portas de correr com vidro, ficam o living e a cozinha integrada. Tanto os ambientes internos quanto os externos têm pisos revestidos de mosaico de pedras portuguesas brancas. A única diferença é que dentro o material recebeu polimento e impermeabilização.
  (Foto: Maíra Acayaba)Entrada principal: no terreno em aclive, o acesso da rua (no fundo) para a casa é pela escada lateral com ponte feita de chapa de aço pintada de vermelho. À esq., a porta pivotante de vidro leva ao living. Antes fica a passarela de grelha metálica para o escoamento da água de chuva (Foto: Maíra Acayaba)
O projeto executado rendeu ao escritório MMBB o principal prêmio do Instituto de Arquitetos do Brasil, IAB/SP, em 2008. “É uma casa pequena e compacta, mas totalmente integrada. Nas festas, eu fico com um amplo espaço para receber os amigos ao abrir as portas de correr com vidro das salas e da cozinha para a varanda e para o pátio interno”, afirma Adriana.

Apaixonada pelo mobiliário com design moderno, a moradora tem na sala de estar duas poltronas Paulistano, assinadas por Paulo Mendes da Rocha. Mas o que ela curte de verdade em sua casa é a transparência do vidro nas esquadrias, que vão do piso ao teto. “Tenho uma visão de tudo. De qualquer canto posso olhar o jardim inteiro e, na frente, o movimento da rua”, diz a arquiteta urbanista. “Se isso compromete a privacidade, eu resolvo descendo as cortinas.”
  (Foto: Maíra Acayaba)Living: as esquadrias com vidro fecham os ambientes do chão ao teto, de concreto aparente. Na fachada da frente (à dir.), permitem ver o jardim e a rua. À esq., os painéis de correr ampliam a área para o pátio interno. Luminárias da Reka. No sofá, da Vitra, almofadas, da Larmod. Mesa de jantar com cadeiras, da Empório Vermeil. No aparador, fotografia de Fábio Messias, da Arterix (Foto: Maíra Acayaba)
  (Foto: Maíra Acayaba)Sala de estar: a estante de aço, feita por Carlos Augusto Stefani, ocupa as laterais da lareira de concreto na empena lateral (parede estrutural). Poltrona Paulistano, à venda na Dpot. tapete, da Phenicia Concept. Mesa de centro, da Artefacto (Foto: Maíra Acayaba)
  (Foto: Maíra Acayaba)Cozinha: o espaço é aberto para as salas e tem uma bancada da pia que ocupa toda a extensão da parede (no fundo). O piso é de pedras portuguesas lixadas e impermeabilizadas. Armários da Favo. Mesa e cadeiras, da Micasa. Da mesma loja é o móvel, junto à janela, com objetos da L’Oeil e da retrô 63. Escada: a ligação entre o térreo e o pavimento superior é feita pela peça confeccionada inteira com chapas de aço moldadas no local. Os degraus receberam pintura eletrostática com tinta vermelha e os guarda-corpos e corrimão, tom cinza chumbo (Foto: Maíra Acayaba)
  (Foto: Maíra Acayaba)Corredor-escritório: a área de circulação entre as suítes deu origem ao longo espaço de estudo e trabalho com móvel composto de vários módulos, da Vitra, instalado na parede lateral. O assoalho com tábuas de ipê é da Felgueiras (Foto: Maíra Acayaba)
  (Foto: Maíra Acayaba)Suíte: o quarto tem brises para controlar a entrada dos raios de sol no lado da fachada (à esq.). O closet fica no volume de alvenaria, solto do teto, atrás da cama, da Casa Pronta quartos. Mesa lateral, da empório Vermeil. Roupa de cama, da trousseau. Tapete, da Phenicia Concept (Foto: Maíra Acayaba)
  (Foto: Maíra Acayaba)Terraço-jardim: todos os cômodos são voltados para o pátio interno, onde fica o jogo de escadas metálicas. O fechamento por esquadrias com vidro permite que sejam banhados pela luz natural. Na cobertura, espreguiçadeiras, da Regatta (Foto: Maíra Acayaba)

Fonte: Casa e Jardim

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