A pesquisa mostrou que os pais costumam superestimar as habilidades e qualidades de seus filhos e subestimar suas dificuldades e medos. Em outras palavras, eles costumam achar que o desempenho das crianças em matemática, gramática e até mesmo o modo que as crianças encaram a vida são mais positivos do que de fato são.
"Acreditamos que essa discrepância entre imagem e realidade também pode se aplicar à forma como os pais percebem o bem-estar emocional de seus filhos", diz Kristin Lagattuta, pesquisadora líder do estudo.
Para chegar a essa conclusão, mais de 500 crianças com idades entre 4 e 11 anos responderam a um questionário avaliando suas emoções. As questões envolviam ansiedades comuns da infância, como medo do escuro ou algo de ruim acontecer a um membro da família. Posteriormente, os pais responderam às mesmas questões segundo o que eles acreditavam ser as respostas emocionais de seus filhos para aquelas situações.
Os resultados evidenciaram a diferença entre a autoimagem das crianças e a expectativa dos adultos. Os filhos deram classificações mais elevadas para suas preocupações e mais baixas para seus sentimentos de otimismo do que seus pais.
Realidade X Expectativa
“Os filhos são pedacinhos dos pais, levam nossa assinatura. Assim, é comum que queiramos sempre atenuar seus defeitos e exaltar suas qualidades, pois isso não deixa de ser um elogio ao nosso desempenho como genitores”, explica Rita Calegari, psicóloga do Hospital e Maternidade São Camilo (SP).
A profissional lembra como é difícil para qualquer pessoa admitir seus pontos fracos e que com os filhos essa dificuldade fica ainda mais exacerbada. “O problema é quando o pai ou a mãe passa a confundir a expectativa com a realidade. Isso pode ser prejudicial para o desenvolvimento da criança, porque ela não saberá lidar com críticas, fracassos, além, é claro, da pressão de ter que corresponder com as idealizações dos pais que nem sempre correspondem com o que elas são ou desejam ser”, alerta Rita.
Para a psicóloga, é essencial ensinar a criança desde pequena a ouvir críticas. “A família é um pequeno exemplo de sociedade. Ao educar, os pais precisam lembrar que um dia os filhos terão empregos, chefes e serão cobrados. Se sempre ouviram que são o máximo dentro de casa, poderão se frustrar e não se adaptar à realidade fora dela.”
Do outro lado, se pai e mãe não conseguem reconhecer os temores e dificuldades de seus filhos, não poderão ajudá-los. "Isso pode afastá-los e encurtar o diálogo, pois a criança se sentirá incompreendida dentro daquele espaço e não conseguirá se abrir", diz Camila D'Amico, coordenadora pedagógica do Colégio Graphein (SP). É fundamental estar sempre atento e aberto para ouvir o que a criança tem para dizer, sem criticá-la e não achar que tudo é “coisa de criança”.
Tudo bem fazer planos para os filhos, mas eles devem ser pensados diante das reais capacidades deles e conforme suas vontades. "Criar filhos é possibilitar que eles desenvolvam suas potencialidades e características próprias, que estejam aptos para ser aquilo que querem ser", lembra Camila.
Outro ponto que o estudo levanta é a necessidade de ouvir a criança quando um psicólogo ou qualquer outro profissional realiza uma avaliação de seu bem-estar emocional. “Como alguns estudiosos acreditam que crianças com menos de 7 anos não conseguem informar com precisão como se sentem, frequentemente as avaliações levam em consideração as impressões dos pais e de outros adultos”, diz Kristin. "Esses novos resultados sugerem que essas considerações devem ser tratadas com cautela."
Fonte: Crescer
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