A galeria de circulação do piso superior abre-se para o jardim externo e para a sala de estar
Sem vistas amplas, casa cria sua paisagem
Cristiane Muniz, Fábio Valentim, Fernanda Barbara e Fernando Viégas trabalharam pátios internos ajardinados, vidro e reflexos para tirar o melhor proveito da boa profundidade do terreno e criar uma paisagem própria, que compensasse a falta de vistas externas amplas. A solução adotada diluiu o limite entre os ambientes e garantiu transparência desde a rua até o final do lote. Após a primeira concretagem, a construção tornou-se uma linha de montagem, acelerando e dando mais racionalidade às obras.
A residência projetada pela equipe do escritório Una Arquitetos localiza-se em City Boaçava, bairro residencial arborizado e com vias de traçado sinuoso, planejado dentro do conceito de cidadejardim e implantado na zona oeste de São Paulo pela centenária Cia. City.
Plano, o terreno disponível para a implantação da casa media aproximadamente 14 x 50 metros e estava confinado entre as grandes casas laterais e o muro bastante alto da construção aos fundos.
A profundidade e a ausência de vistas a serem exploradas levou a um projeto que se vale da alternância de cheios e vazios para criar uma paisagem própria.
Essa condição foi alcançada por meio de varandas e pátios internos abertos separando dois volumes de dois pavimentos e fechamento com panos de vidro, o que diluiu a fronteira entre os ambientes e garantiu transparência em toda a extensão do lote.
Confinado entre as construções vizinhas, o terreno tem extensão superior à média urbana paulistana
Grandes empenas laterais sustentam as vigas metálicas que vencem o vão de dez metros
O pátio frontal, que funciona como garagem, fica sob um dos volumes superiores e é separado do primeiro bloco pelo espelho d’água.
“Vidro e água dão efeitos bem interessantes. As chapas metálicas, usadas como vedos internos, formam planos escuros que aumentam a reflexão diurna do vidro e criam zonas confusas entre interior e exterior, reforçando esses efeitos”, comenta o arquiteto Fernando Viégas, um dos autores do projeto.
O volume principal abriga ambientes de estar no térreo, com cozinha e lavanderia alinhadas na fachada direita.
Com deque de madeira e piscina, o segundo pátio integra a área social com varanda ao salão de jogos, instalado no térreo do bloco posterior.
O andar superior é ladeado pela galeria de circulação longitudinal. Com 25 metros de extensão, ela também tem a função de abrigar a biblioteca, ora aberta para o jardim com espelho d’agua, ora como um mezanino voltado para a sala de estar.
Essa circulação é deslocada na face frontal - conformada por painéis de vidro translúcido -, dando acesso a dois dormitórios. Já o quarto principal fica na extremidade oposta do bloco.
Visando obter a melhor insolação, os dormitórios são orientados para os pátios posteriores, a nordeste, inclusive o pequeno apartamento independente no bloco dos fundos, que regula a altura do grande muro vizinho e pode abrigar hóspedes ou caseiros.
Espelho d’água e jardim marcam o vazio frontal. A área sob o volume construído funciona como garagem
Vidros e água criam reflexos que confundem a percepção do que está fora ou dentro da casa
Vista da área social aberta para os pátios frontal e posterior
A casa é delimitada por duas paredes paralelas com dez metros de vão, vencidos por vigas metálicas. “No projeto de uma residência, paredes autoportantes como únicos apoios de um vão de dez metros podem ser consideradas uma estrutura arrojada e desafiadora”, destaca Carlos Roberto Souza, engenheiro responsável pelas obras.
De acordo com ele, a preparação do concreto que ficará aparente deve ser bastante cuidadosa, o que explica a opção pelo concreto misturado in loco usado nas aplicações verticais.
As instalações estão localizadas em prumadas verticais, executadas na etapa de concretagem. “Já planejamos os recortes necessários de modo que não fosse preciso voltar atrás para abrir caminho para as redes elétrica e hidráulica”, destaca Viégas.
Logo após a concretagem do arranque das duas grandes paredes, foram plantados vários paus-ferro já com oito metros de altura, permitindo que o paisagismo fosse tomando corpo à medida que a construção avançava.
“Depois da casa pronta não teríamos mais como entrar com árvores desse tamanho”, lembra o arquiteto. A partir desse momento, a obra ganhou ritmo de montagem e foram instaladas vigas metálicas, lajes pré-fabricadas, chapas de metal que funcionam como vedos, paredes divisórias em painéis de gesso e caixilhos de vidro com requadros em alumínio.
Simples, mas de belo efeito, o forro é um compensado naval parafusado à laje. Assoalho de madeira nas áreas internas e piso português preto no exterior arrematam o projeto.
Texto de Nanci Corbioli
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 391 Setembro de 2012
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 391 Setembro de 2012
A galeria de circulação é também biblioteca. A prumada vertical por onde correm as instalações é fechada por chapa metálica
Pátio com deque de madeira e piscina integra o salão de jogos, à esquerda, ao bloco social. As árvores mais altas foram transplantadas para o local no início das obras
Fonte: Arco Web
Nenhum comentário:
Postar um comentário