Medo versus benefícios
Vários estudos associam o risco da exposição excessiva ao Sol com o câncer de pele.
Mas o exagero tem tomado outros rumos, por exemplo, nas recomendações vistas nos meios de comunicação, com profissionais defendendo que os pais reponham o protetor solar a cada meia hora ou menos, como se crianças e adultos nunca pudessem tomar Sol.
Nos últimos anos, porém, algumas vozes ainda isoladas têm sido ouvidas, alertando, por exemplo, que o exagero no uso de filtros solares causa deficiência de vitamina D - um problema já bem documentado no Brasil, mostrando que os os jovens brasileiros têm insuficiência de vitamina D por falta de exposição ao Sol.
Além disso, já se sabe que os protetores solares não são totalmente livres de riscos.
Agora, um novo estudo não apenas coloca em xeque o "argumento do medo" do câncer de pele, como mostra que tomar Sol tem outros benefícios além da vitamina D.
Pesquisadores da Universidade de Edimburgo (Escócia) mostraram que a exposição da pele aos raios ultravioleta na verdade ajuda a reduzir a pressão arterial, e reduz o risco de ataque cardíaco e de derrame.
E, mais importante, eles demonstraram que os benefícios da redução da pressão arterial superam em muito o risco de desenvolver câncer de pele.
Óxido nítrico
Usando dados do Reino Unido, os cientistas afirmam que as doenças cardíacas e os acidentes vasculares cerebrais (derrames) ligados à pressão alta causam 80 vezes mais mortes do que o câncer de pele.
O estudo demonstrou que, quando a nossa pele é exposta aos raios do Sol, é liberado um composto em nossos vasos sanguíneos que ajuda baixar a pressão arterial.
A produção deste composto redutor da pressão arterial - chamado óxido nítrico - é independente da fabricação de vitamina D pelo corpo, que também aumenta após a exposição à luz do Sol.
Até agora se acreditava que o único benefício do Sol para a saúde humana era a produção da vitamina D, dizem os cientistas.
Benefícios da luz do Sol para o coração
Os pesquisadores estudaram a pressão arterial de 24 voluntários que se sentaram sob lâmpadas de bronzeamento para duas sessões de 20 minutos cada.
Foram usadas lâmpadas de bronzeamento porque os cientistas queriam isolar o efeito dos raios ultravioleta (UV), normalmente associados ao câncer de pele, dos efeitos apenas do calor da luz solar.
Os resultados mostraram que a pressão sanguínea diminuiu significativamente durante uma hora após a exposição aos raios ultravioleta, mas não depois das sessões somente com calor.
Os cientistas afirmam que isso comprova que são os raios UV do Sol que geram os benefícios à saúde. Os níveis de vitamina D dos voluntários permaneceram inalterados em ambas as sessões, provavelmente por estarem associados com outros comprimentos de onda da luz.
"Nós suspeitamos que os benefícios da luz do Sol para a saúde do coração superam o risco de câncer de pele. O trabalho que fizemos revela um mecanismo que pode explicar isso, e também explica por que os suplementos dietéticos de vitamina D por si só não são capazes de compensar a falta da luz solar.
"Nós agora pretendemos estudar os riscos relativos de doenças cardíacas e de câncer de pele em pessoas que receberam diferentes quantidades de exposição ao Sol. Se confirmarmos que a luz solar reduz a taxa de mortalidade por todas as causas, então teremos de reconsiderar nossos conselhos sobre a exposição ao Sol," disse o diz Dr. Richard Weller, coordenador do estudo.
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